Levantamento mostra presença frequente de crianças, falta de ajuda e desconhecimento da Lei Maria da Penha
A 11ª edição da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, realizada pelo Instituto DataSenado e Nexus, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), revela um dado alarmante: 71% dos episódios de violência doméstica no último ano ocorreram na presença de outras pessoas. O estudo ouviu 21.641 mulheres em 2025 e é considerado o maior levantamento do país sobre o tema.
Entre as 3,7 milhões de brasileiras que relataram agressões, 70% afirmaram que havia crianças no local, geralmente filhos ou filhas das vítimas. Ainda assim, 40% das testemunhas não ofereceram qualquer tipo de ajuda.
A quem as mulheres recorrem primeiro
O estudo mostra que a primeira escuta das vítimas ainda acontece fora das instituições públicas. Antes de acionar delegacias ou canais oficiais:
- 58% procuram apoio na família;
- 53% buscam acolhimento na igreja;
- 52% recorrem a amigos.
Apenas 28% registraram denúncia em Delegacias da Mulher e somente 11% acionaram o Ligue 180, canal nacional de denúncia e orientação.
O recorte religioso também chama atenção: 70% das mulheres evangélicas buscam apoio na igreja, enquanto 59% das católicas procuram familiares.
A antropóloga Beatriz Accioly, do Instituto Natura, destaca a importância das redes de fé e apoio pessoal. “No Brasil, não se enfrenta a violência doméstica sem a presença das comunidades de fé. É essencial que quem acolhe saiba orientar corretamente e conduzir essas mulheres até os serviços de proteção”, afirmou em nota.
Desconhecimento da Lei Maria da Penha amplia vulnerabilidades
Outro dado crítico é a falta de informação: 67% das brasileiras conhecem pouco a Lei Maria da Penha e 11% nunca ouviram falar do conteúdo da legislação.
Entre as mais vulneráveis, o desconhecimento é ainda maior:
- 30% das mulheres analfabetas não conhecem a lei;
- 20% das que têm ensino fundamental incompleto desconhecem seus direitos;
- A taxa cai para 3% entre quem possui ensino superior completo.
A desigualdade se repete na renda: mulheres que ganham até dois salários mínimos têm índice de desconhecimento muito superior ao de quem recebe acima de seis salários mínimos.
Para Vitória Régia da Silva, diretora da Gênero e Número, o acesso à informação é determinante. “A pesquisa mostra que ainda há um longo caminho para garantir que todas saibam onde buscar ajuda. É urgente ampliar a oferta de informação acessível e presente nos territórios”, destacou.
Violência persistente e repetida
O levantamento aponta ainda que 58% das vítimas convivem com agressões há mais de um ano, reforçando a persistência e a gravidade dos ciclos de violência doméstica no país.
Para Maria Teresa Firmino, coordenadora do OMV, a violência de gênero é um problema estrutural. “A resposta precisa ser coletiva, permanente e articulada para proteger mulheres, famílias e comunidades”, afirmou.
Mapa Nacional da Violência de Gênero
A Pesquisa Nacional integra o Mapa Nacional da Violência de Gênero, plataforma pública que reúne dados de diversas fontes para orientar políticas de enfrentamento. O material completo e os destaques da edição 2025 estão disponíveis na página “Pesquisa Nacional” do Mapa.
A pesquisa reforça a urgência de ampliar mecanismos de proteção, fortalecer redes de apoio e garantir que informação e acolhimento cheguem, de fato, às mulheres que mais precisam.
Fonte: Redação com informações Brasil 61











