O Ministério Público da Bahia (MP-BA) revelou que a ex-diretora do Conjunto Penal de Eunápolis, Joneuma Silva Neres, presa há sete meses por facilitar a fuga de 16 detentos, integrava uma organização criminosa e articulava negociações de votos “cativos” por R$ 100 cada, em parceria com o detento foragido Ednaldo Pereira de Souza, conhecido como “Dadá”.
De acordo com documentos obtidos pela TV Bahia, Joneuma promovia encontros entre Dadá e políticos da região, como o ex-deputado federal Uldurico Jr. (MDB), então candidato a prefeito de Teixeira de Freitas, e o vereador Cley da Autoescola (PSD), de Eunápolis.
Essas reuniões ocorriam dentro do presídio e, segundo o MP, eram organizadas sem registros oficiais, com câmeras desligadas por ordem da ex-diretora. Em troca do apoio político, Joneuma garantia “eleitores cativos” – presos e familiares – para apoiar os candidatos. O MP estima que ela pode ter lucrado até R$ 1,5 milhão com o esquema. A defesa nega as acusações.
“Ela nunca recebeu qualquer valor. A quebra de sigilo bancário foi requerida e está à disposição”, afirmou o advogado Artur Nunes.
Regalias e influência no presídio
O processo detalha que Joneuma usava o cargo para atender às exigências do grupo criminoso, liderado por Dadá, permitindo o ingresso de freezers, sanduicheiras, roupas, ventiladores e visitas sem inspeção – inclusive da esposa de Dadá. Também direcionava contratações e demissões dentro da unidade para manter o controle total do presídio.
Quem se opunha era demitido. Os ex-funcionários eram substituídos por aliados da gestora, inclusive sua irmã Jocelma Neres, nomeada advogada para atuar em nome da facção.
Além de Joneuma, outras 17 pessoas foram denunciadas, entre elas Wellington Oliveira Sousa, ex-coordenador de segurança da unidade, que também está preso. Ele foi um dos principais delatores do esquema.
Fuga em massa e ligação com facção do Rio
O episódio mais grave da gestão de Joneuma foi a fuga em massa no dia 12 de dezembro de 2024, quando 16 presos escaparam da unidade. Entre eles, Dadá, apontado como líder de uma facção com ramificações no Rio de Janeiro. Desde então, ele está foragido.
Segundo o MP, a motivação de Joneuma ao intermediar os encontros políticos era manter-se no cargo e garantir respaldo político à atuação da facção dentro do presídio, com a promessa de votos em troca de apoio.
Apesar de ter sido a primeira mulher a dirigir um presídio na Bahia, sua gestão passou a ser investigada logo após sua posse, em março de 2024, pela série de regalias oferecidas aos presos e pela movimentação incomum nas dependências da unidade.
Redação com informações do g1/Bahia