Durante entrevista concedida à TV Bahia, nesta quarta-feira (2), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas ao atual modelo de segurança pública no Brasil e defendeu uma reformulação na atuação das forças de segurança para enfrentar o avanço do crime organizado.
O chefe do Executivo federal apontou a necessidade de uma atuação conjunta entre governos estaduais e a União, com redefinição de responsabilidades constitucionais e investimentos em inteligência e profissionalismo.
“Polícia deve ser guardiã da sociedade”
Ao responder sobre a crescente violência em estados como a Bahia, Lula reconheceu a desconfiança de parte da população em relação à polícia e afirmou que é preciso reconstruir a relação entre sociedade e forças de segurança.
“A polícia deve ser uma guardiã da sociedade. Quando a população vê um policial, tem que enxergar alguém que vai ajudar, não um adversário. Em algum momento no Brasil, isso se inverteu. É preciso encontrar uma fórmula civilizatória para isso”, disse.
O presidente reforçou que não se trata de uma “solução mágica”, mas de parceria institucional séria entre União e estados.
PEC para redefinir papéis na segurança pública
Lula informou que o governo federal já se reuniu três vezes com governadores para discutir uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa esclarecer o papel da União no combate à criminalidade.
“A Constituição diz que a segurança pública é responsabilidade dos governadores, que controlam as polícias Civil e Militar. O governo federal tem a Polícia Federal e as Forças Armadas, mas elas não estão integradas nessa dinâmica. Precisamos decidir: a União só entra com dinheiro ou também com responsabilidade política?”, questionou.
Recursos insuficientes para enfrentar a criminalidade
O presidente também destacou a limitação orçamentária como um dos obstáculos. Ele relatou uma conversa entre os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) sobre o Fundo Nacional de Segurança.
“O Lewandowski disse que havia R$ 2 bilhões no fundo. Rui respondeu: ‘Só na Bahia eu gasto R$ 8 bilhões’. E é verdade. Dois bilhões para o Brasil inteiro não resolvem”, pontuou.
“Crime organizado é uma indústria multinacional”
Na conclusão da entrevista, Lula ressaltou que o crime organizado opera em rede, com influência que vai além da violência nas ruas.
“O crime organizado é uma indústria multinacional. Tem braço no Judiciário, na política, no futebol… Até internacionalmente. Por isso, precisamos enfrentá-lo com seriedade, inteligência e profissionalismo. E também acabar com a conivência dentro das próprias polícias em alguns estados”, afirmou.
Redação