A Receita Federal divulgou um balanço alarmante sobre o comércio ilegal de medicamentos na Bahia. Somente neste ano, foram apreendidas 385 canetas emagrecedoras, além de 681 caixas vazias e 222 adesivos de rotulagem. Os números reforçam que, mesmo com o endurecimento das regras da Anvisa e a venda regular em farmácias, o contrabando de substâncias como tirzepatida e semaglutida (bases do Mounjaro e Ozempic) continua fluindo para o país sem o devido registro sanitário.
A persistência do tráfico desses produtos coincide com o desdobramento de uma grande investigação da Polícia Federal (PF), que mira um esquema de fabricação clandestina e manipulação irregular em larga escala.
Conexão com Esquema de Médico Baiano
As apreensões ocorrem no mesmo contexto da operação que investiga o médico baiano Gabriel Almeida. Segundo a PF, o esquema utilizava a Ilha de Carapituba, próxima a Salvador, como palco para cursos do chamado “Protocolo de Emagrecimento”. O local servia de vitrine para apresentar os produtos, que posteriormente eram vendidos a clínicas e laboratórios.
A operação cumpriu 24 mandados de busca e apreensão, tendo como um dos alvos a sede da Unikka Pharma, em São Paulo.
- Produção Irregular: A investigação aponta que o laboratório produzia e manipulava ampolas em escala industrial, além de anabolizantes e implantes hormonais, em condições irregulares.
- Sócios Ocultos: A PF suspeita que Gabriel Almeida e outros médicos atuavam como sócios ocultos do laboratório.
Entidades Médicas Pedem Proibição Total
Diante dos riscos expostos pela operação, entidades médicas divulgaram uma carta aberta solicitando à Anvisa a suspensão cautelar imediata da fabricação, comercialização, distribuição e prescrição de quaisquer versões manipuladas de canetas emagrecedoras.
O argumento é técnico e sanitário: as versões manipuladas não possuem registro adequado e carecem de comprovação de equivalência farmacêutica, controle de pureza, potência, esterilidade e estabilidade, colocando a saúde dos pacientes em risco grave.
Entenda as Regras Atuais da Anvisa
Para combater as irregularidades, a Anvisa atualizou recentemente as normas para os agonistas de GLP-1, diferenciando os tipos de Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs):
- Semaglutida Biotecnológica: Presente no Ozempic e Wegovy. Só pode ser manipulada se o insumo vier do mesmo fabricante do registro (Novo Nordisk). Como a farmacêutica não fornece o insumo para terceiros, a manipulação é, na prática, proibida.
- Semaglutida Sintética: Não possui registro no Brasil e sua manipulação é ilegal.
- Tirzepatida Sintética: Ainda pode ser manipulada, mas sob regras rígidas de controle de qualidade. É neste ponto que as entidades médicas pressionam por um veto total.
A agência reguladora reforça que medicamentos biológicos não permitem a troca de fabricante, pois o processo produtivo é parte intrínseca do produto final. Inspeções realizadas em 2023 já haviam identificado doses acima do permitido e ausência de controle de qualidade em diversas farmácias de manipulação.
Redação









