Estudo da CNI aponta queda no emprego, massa salarial e capacidade instalada; especialistas alertam para efeitos dos juros altos e produtos importados
O setor industrial brasileiro voltou a registrar queda no faturamento, aprofundando o cenário de retração. Segundo os Indicadores Industriais divulgados nesta sexta-feira (7) pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), houve uma redução de 1,3% em setembro. No mês anterior, o índice já havia recuado 5,2%.
Mesmo com os resultados negativos recentes, o desempenho acumulado de janeiro a setembro de 2025 ainda apresenta um crescimento de 2,1% em comparação ao mesmo período de 2024.
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Juros altos e concorrência externa pressionam o setor
De acordo com a especialista em Políticas e Indústria da CNI, Larissa Nocko, o desempenho instável é reflexo direto do cenário de juros elevados no Brasil, que encarece o crédito e dificulta a recuperação do setor.
“Os consumidores acabam tendo acesso a um crédito mais caro e a menos crédito, como também à penetração de produtos importados no mercado doméstico, que capturam uma parte relevante desse mercado das indústrias nacionais”, destacou a especialista.
Emprego e massa salarial também recuam
O levantamento aponta que o emprego na indústria caiu 0,2% em setembro, encerrando um período de estabilidade entre maio e agosto. Até abril de 2025, o setor havia completado 18 meses sem retração. Ainda assim, no acumulado de janeiro a setembro, há uma alta de 2% frente ao mesmo intervalo de 2024.
Já a massa salarial apresentou uma redução de 0,5% em relação a agosto. No acumulado do ano, a queda chega a 2,4%. Segundo a CNI, os resultados refletem a perda de fôlego do setor diante da estagnação da economia e do custo do crédito.
Capacidade instalada em queda
Outro indicador negativo é a Utilização da Capacidade Instalada (UCI), que caiu de 78,3% em agosto para 77,9% em setembro. O número é 2,1 pontos percentuais abaixo do registrado no mesmo mês de 2024, demonstrando menor ritmo produtivo.
Especialistas defendem novos acordos e maior integração
Para o professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Victor Gomes, o Brasil precisa fortalecer parcerias com mercados estabilizados, como os Estados Unidos, para reaquecer a indústria nacional.
“O setor industrial é o que gera dinamismo na economia. Se o Brasil conseguir fechar acordos estratégicos com mercados onde outros países têm dificuldades, como os EUA, isso pode representar um ponto positivo para a retomada industrial”, afirmou.
Produção e rendimento mostram estabilidade
Apesar da retração nos principais indicadores, o estudo da CNI aponta estabilidade nas horas trabalhadas, após uma leve alta de 0,1% entre agosto e setembro. No acumulado de 2025, o avanço é de 1,3%.
Larissa Nocko explica que esse comportamento acompanha o desempenho da indústria de transformação, que também apresentou estabilidade segundo dados do IBGE. “Outros indicadores, como emprego, massa salarial e rendimento médio, confirmam a perda de dinamismo do setor”, observou.
O rendimento médio real dos trabalhadores manteve-se estável no mês, mas acumula uma queda de 4,4% entre janeiro e setembro, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Fonte: Brasil 61










