O tradicional beiju artesanal agora é oficialmente patrimônio imaterial de Irará, cidade localizada a cerca de 50 km de Feira de Santana, no interior da Bahia. A proposta foi aprovada pela Câmara Municipal no dia 17 de junho e aguarda a sanção do prefeito para entrar em vigor.
Feito a partir da mandioca, o beiju é muito mais do que um alimento típico: representa história, resistência e fonte de renda para dezenas de famílias da zona rural. Em Irará, a produção do beiju atravessa gerações, com protagonismo das mulheres, conhecidas como beijuzeiras, que mantêm viva a tradição nas cozinhas de casa, associações e cooperativas.
Produção do beiju une cultura, sustento e ancestralidade
A relação de Irará com o beiju começou a se fortalecer na década de 1980, com o crescimento do cultivo de mandioca em comunidades rurais. Desde então, o beiju se transformou em símbolo de empreendedorismo feminino e identidade cultural. Atualmente, mais de 120 mulheres atuam diretamente na produção artesanal, utilizando técnicas tradicionais passadas de mãe para filha.
Uma das lideranças desse movimento é Marinalva Cerqueira, mais conhecida como Nalva do Beiju. À frente de uma associação familiar, Nalva destaca o esforço e a dedicação das mulheres envolvidas:
“São mulheres guerreiras que buscam o sustento para dentro de casa. Mesmo com chuva ou sol, estão no forno fazendo beiju, arrancando mandioca e vendendo. Isso é gratificante”, afirmou.
Outro polo importante de produção é a Cooperativa de Sobradinho, onde cerca de 100 mulheres trabalham diariamente com a mandioca e derivados, mantendo viva uma cadeia produtiva essencial para a economia local.
Festival do Beiju leva tradição de Irará para outros municípios
O reconhecimento do beiju como patrimônio imaterial também é resultado de ações culturais que vêm dando visibilidade à tradição. Um exemplo é o Festival do Beiju de Irará, criado em 2015 pelas irmãs e produtoras culturais Bernadete Anunciação e Lucy Anunciação.
O evento é itinerante e já passou por cidades como Feira de Santana, Santo Estêvão e Conceição do Jacuípe, levando ao público os sabores do beiju e os saberes ancestrais das comunidades produtoras. O festival também tem papel importante na valorização da cultura da mandioca e no fortalecimento da economia criativa no interior baiano.
Patrimônio vivo e futuro sustentável
Com o reconhecimento como patrimônio imaterial, o beiju de Irará ganha respaldo legal para preservação, fomento e valorização cultural. A medida pode facilitar o acesso a políticas públicas voltadas ao desenvolvimento rural, à agricultura familiar e à economia solidária, garantindo que essa tradição siga viva para as próximas gerações.
Redação com informações do g1/Bahia