A baiana Rosali Eliguara Ynaê, de 39 anos, entrou para a história ao se tornar a primeira monja afro indígena da tradição budista japonesa Soto Zen, uma linhagem com mais de 700 anos. A cerimônia de ordenação aconteceu no templo Shinōzan Takuonji, na cidade de Yguazú, no Paraguai.
Nascida em Salvador, Rosali passou a ser chamada de Rōzen após a cerimônia, que selou seu compromisso com a doutrina budista. “Saí da realização individual para um compromisso coletivo. Sentia essa necessidade de algo a mais, de me colocar à disposição”, afirmou.
De Salvador ao templo zen
Criada nos bairros de Castelo Branco e Liberdade, Rōzen cresceu em meio à diversidade cultural e religiosa. Filha de pai indígena, com ascendência Kariri Xocó de Paulo Afonso, e mãe sertaneja católica, sempre valorizou suas raízes afro indígenas. “Axé e Zen são três letras de puro amor em ação no mundo”, disse.
A ligação com o budismo surgiu ainda na graduação em História, na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Na época, por volta de 2006, teve contato com uma professora que pesquisava o budismo. A partir dali, mergulhou em estudos e práticas espirituais de várias tradições budistas, até se identificar com a linhagem Soto Zen.
🧘🏽♀️ A tradição Soto Zen prioriza a prática da meditação sentada (zazen) como caminho para a iluminação e a purificação da mente.
Caminho até a ordenação
Em 2024, ao visitar o templo Shinōzan Takuonji, em Yguazú, Rōzen se encantou com a comunidade formada por descendentes de japoneses que chegaram ao Paraguai durante a Segunda Guerra Mundial. “Era um pedacinho do Japão no Brasil. Eu olhei e pensei: ‘acho que meu coração está em festa aqui’”, contou.
Ela participou de um curso intensivo de três meses, que incluiu estudo da doutrina, imersão na rotina do templo e aprendizado das línguas japonesa e guarani. Ao final, foi aceita como aprendiz e ordenada em uma cerimônia que uniu o dendê da Bahia às tradições japonesas — marcando um momento inédito de confluência cultural e espiritual.
Redação com informações do g1/Bahia