Gênio alagoano eternizado por Miles Davis como “o músico mais impressionante do mundo” deixa legado inigualável na história da música
O Brasil e o mundo da música perderam neste sábado (13) um de seus maiores gênios criativos. Hermeto Pascoal, multi-instrumentista alagoano conhecido como “o bruxo” da música instrumental, morreu aos 89 anos, no Hospital Samaritano Barra, na Zona Sudoeste do Rio de Janeiro, em decorrência de falência múltipla dos órgãos. A morte foi confirmada às 20h22 pela unidade de saúde e divulgada pela família em suas redes sociais.
“Com serenidade e amor, comunicamos que Hermeto Pascoal fez sua passagem para o plano espiritual, cercado pela família e por companheiros de música”, diz a nota. Em uma coincidência poética, no instante de sua partida, sua banda, Nave Mãe, estava no palco, “como ele gostaria: fazendo som e música”.
Um gênio celebrado por Miles Davis
Chamado por Miles Davis (1926–1991) de “o músico mais impressionante do mundo”, Hermeto Pascoal transcendeu fronteiras. Três vezes vencedor do Grammy Latino, mostrou que era possível criar música sofisticada com os elementos mais inusitados: panelas, chaleiras, brinquedos infantis, regadores, animais e, claro, os instrumentos clássicos que dominava como poucos.
Autodidata, aprendeu acordeom aos 10 anos com o irmão. Só passou a escrever partituras após os 41 anos, mas já havia deixado uma marca indelével em orquestras, palcos e festivais.
Carreira marcada por ousadia
Hermeto morava em Bangu, Zona Oeste do Rio, e se manteve ativo até os últimos meses. Em julho e agosto, percorreu a Europa com uma série de nove shows em sete países. No Brasil, sua última apresentação foi em junho, no Circo Voador, no Rio de Janeiro, transformado em grande festa de aniversário quando completou 89 anos.
Ele seria atração do Festival Acessa BH, em Belo Horizonte, neste sábado (13), mas já havia cancelado a participação por motivos de saúde.
Entre os inúmeros reconhecimentos, recebeu em 2023 o título de Doutor Honoris Causa da Juilliard, prestigiada escola de artes de Nova York, além de homenagens semelhantes pelas universidades federais da Paraíba e de Alagoas, seu estado natal.
Últimos trabalhos
Em 2024, Hermeto lançou o disco “Pra você, Ilza”, homenagem à esposa Ilza Souza Silva, mãe de seus seis filhos, falecida em 2000. O álbum foi eleito pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) um dos melhores do ano. No mesmo período, ganhou sua primeira biografia, “Quebra tudo! — A arte livre de Hermeto Pascoal”, do jornalista Vitor Nuzzi.
Uma vida de música sem fronteiras
Nascido em 1936, em Lagoa da Canoa (AL), Hermeto começou a carreira tocando em rádios de Recife ao lado do irmão José Neto. No Rio de Janeiro e em São Paulo, nos anos 1960, consolidou parcerias com nomes como Heraldo do Monte, Edu Lobo, Marília Medalha e Lanny Gordin. No exterior, viveu temporadas nos Estados Unidos, onde gravou com Airto Moreira e se tornou amigo de Miles Davis.
Seu estilo livre e irreverente nem sempre foi compreendido. Em 1972, no Festival Internacional da Canção, criou para a música “Serearei” um coral de porcos — e acabou censurado pela ditadura.
Hermeto deixa seis filhos, 13 netos e dez bisnetos, além de uma obra que revolucionou a música brasileira e mundial.
A frase que tantas vezes repetiu ajuda a entender sua força criativa:
“A idade não existe. O que existe é o dia a dia. Quando se é feliz, a gente aprende a passar a felicidade para as pessoas.”
Fonte: Redação