Feira de Santana, historicamente um polo de progresso e comércio na Bahia, é hoje palco de uma emergência silenciosa. O dado é frio e brutal: apenas neste mês de novembro, 19 homicídios foram registrados na cidade. Este número, que representa 19 famílias desfeitas e 19 projetos de vida interrompidos, não pode ser tratado apenas como estatística fria em relatórios, mas sim como um grito urgente de socorro por parte da população.
A crueza desses números expõe a falência das atuais estratégias de segurança pública na “Princesa do Sertão”. Embora o primeiro semestre de 2025 tenha apresentado uma queda geral nos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), conforme dados recentes, o pico de letalidade em novembro acende um alerta de que essa redução pode ser momentânea ou, pior, ineficaz diante da dinâmica do crime organizado e da violência urbana. A aparente trégua deu lugar a um novo e sangrento avanço.
É crucial ir além da repressão policial e da guerra declarada ao tráfico. Os 19 homicídios não são apenas resultado de confrontos; eles revelam um tecido social esgarçado pela falta de oportunidades, pelo domínio territorial de facções e pela ausência de políticas públicas eficazes nas periferias. A violência em Feira de Santana possui raízes profundas que demandam ações integradas de educação, emprego, saúde mental e lazer, construindo alternativas concretas para os jovens cooptados pelo crime.
A cidade, seus gestores e a sociedade civil precisam encarar essa realidade sem rodeios. A segurança pública deve ser tratada como prioridade máxima, com investimentos em inteligência, aumento de efetivo e, fundamentalmente, na prevenção social. É hora de cobrar das autoridades estaduais e municipais um plano de ação robusto e imediato, que não apenas reaja aos crimes, mas que ataque as causas subjacentes que transformaram as ruas de Feira de Santana em um cenário de luto recorrente. A vida de cada um dos 19 mortos exige uma resposta que vá além das promessas e das estatísticas maquiadas.
📊 Análise de Dados: Feira de Santana, Entre a Queda Anual e o Surto de Novembro
Os dados oficiais de segurança pública em Feira de Santana mostram um panorama complexo e ambivalente: enquanto os números acumulados de 2025 apresentavam uma tendência positiva de queda, o surto de 19 homicídios em novembro surge como um grave ponto de inflexão que desafia o discurso de melhora.
Tendência de Queda no Acumulado (Janeiro a Setembro/2025)
A Polícia Civil da Bahia e autoridades locais vinham divulgando resultados expressivos de redução nos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), que englobam homicídio doloso, latrocínio e lesão corporal seguida de morte:
- Redução Semestral: O primeiro semestre de 2025 registrou uma queda de quase 30% (29,34%) nos CVLIs em comparação com o mesmo período de 2024.
- Abril Histórico: Abril de 2025 teve o menor número de CVLIs dos últimos 17 anos na cidade, com 21 casos, contra 24 em abril de 2024.
- Acumulado Jan-Abr: O período de janeiro a abril de 2025 contabilizou 82 homicídios, uma redução de 27,4% em relação aos 113 registrados no mesmo quadrimestre de 2024.
- Recuperação em Outubro: Em um indicativo de que as operações integradas funcionavam, houve semanas no início de outubro sem registro de mortes violentas, contrastando com 14 casos no mesmo período de 2024.
A Ruptura de Novembro: Onde a Queda Encontra o Pico
É neste contexto de aparente sucesso que os 19 homicídios registrados em novembro se tornam ainda mais alarmantes.
| Período Analisado | Número de CVLIs/Homicídios | Comparativo com Período Anterior |
| Janeiro a Abril/2024 | 113 | – |
| Janeiro a Abril/2025 | 82 | Redução de 27,4% |
| Abril/2024 | 24 | – |
| Abril/2025 | 21 | Redução de 12,5% (Abril mais seguro em 17 anos) |
| Novembro/2025 | 19 | Ponto de Alta Letalidade |
O aumento súbito em novembro, com 19 vítimas em um mês, expõe a fragilidade da tendência de queda. O número é comparável e até supera alguns meses considerados “históricos” de baixa violência, como o próprio abril de 2025 (21 casos).
- Vulnerabilidade Estrutural: O dado de novembro sugere que a redução anterior pode ter sido resultado de ações pontuais ou de uma trégua temporária entre grupos criminosos, e não de uma desarticulação estrutural e permanente do crime.
- Reação do Crime Organizado: O pico pode indicar uma reação violenta de facções, disputas territoriais intensificadas ou um enfraquecimento das operações de inteligência em um momento crucial.
- Fragilidade das Fronteiras: Feira de Santana, sendo um polo regional e importante entroncamento rodoviário, é extremamente vulnerável à circulação e disputa de grupos criminosos, o que exige uma vigilância constante e uma estratégia de longo prazo que vá além de balanços trimestrais otimistas.
Em suma, a celebração da queda anual não pode ofuscar o massacre pontual de novembro. Os 19 homicídios servem como um lembrete trágico de que a segurança em Feira de Santana está em uma corda bamba, exigindo um reajuste de rota imediato e um investimento massivo em intervenção social, não apenas repressão.
Fonte: Renato Ribeiro Jornalista, com dados da SSP Bahia






